#0013 Por que eu sou alcoolista?

Quando eu digo que sou alcoolista causa até estranheza nas pessoas: você não é, você não está na sarjeta, você não perdeu seu emprego, sua esposa, sua casa; então você não é.

Certamente, meu pai também é uma pessoa com transtorno por uso de álcool. E antes mesmo da minha existência, ele esteve a um gole de perder a vida por causa dessa droga.

Felizmente, ele conseguiu sair de uma situação de ausência de controle para uma vida na sobriedade. Com a ajuda do AA (Alcoólicos Anônimos) ele conseguiu ficar 19 anos sem ingerir uma gota de álcool.

Parte da minha infância foi acompanhando meu pai nas reuniões. E algo que nunca saiu da minha mente, foi o letreiro que tem em qualquer sala do AA: “Evite o primeiro gole”.

Por quê? Pois os alcoólicos não conseguem parar. Quando começam a festejar, não há fim, são os inimigos do fim. Parando de beber apenas quando o corpo não suporta mais.

Além disso, me lembro claramente do início das histórias. Todos começavam nos fins de semana, “sextando”. Depois já era sexta e sábado. Até que não sobre mais o domingo, e já são 3 dias de bebedeiras seguidas.

Vem então as faltas. Começam a faltar no trabalho na segunda. Os companheiros(a) começam a não aguentar aquela rotina. Há os atritos. Eles então dizem que vão parar. Param. Mas então depois voltam, com mais sede, com mais força.

Já não é mais só de sexta a segunda. Pouco a pouco se torna algo diário. Alguns conseguem manter os empregos, outros não. Perdem a renda, a família, a si mesmo. Como você pode fazer algo por si, se você não consegue resistir a droga? É como se você começasse a não mais reconhecer quem é você sem a droga.

Vem a rua.

O alcoolismo é uma doença que não tem cura. Não são todas as pessoas que seguem este caminho, e não são todos os que não têm o controle. Certamente você conhece alguém que bebe duas latinhas e para. Mas você conhece muitos outros que não tem fim, talvez a maioria das pessoas que você convive.

O alcoolismo também é uma doença com causas genéticas, afetam algumas pessoas outras não, e uma vez afetado é como uma bola de neve, só aumenta. Existe um teste com 12 perguntas, procure no Google, ele nos ajuda a identificar se temos uma relação “normal” com a droga. Como você deve imaginar, a minha não é.

Tomar essa decisão, não é fácil. Admitir o meu problema não é fácil. Ainda mais porque as pessoas não entendem, até acham um absurdo eu dizer que não quero beber nunca mais na minha vida.

Elas acham que se você não bebe todos os dias ou não se perdeu ainda na sargeta, você é “normal”, mesmo que isso te custe seus sonhos, seus projetos, e uma parte da sua vida. E fazer diferente é um absurdo.

Talvez mesmo seja um absurdo encarar a vida sem nenhuma droga.

Mas é necessário, nós precisamos encarar a dor. E para algumas pessoas não é uma opção um gole, uma latinha. Pelo menos comigo não. Uma latinha significa eu beber até meu corpo não aguentar e eu perder a minha consciência. E não quero isso para a minha vida.

O alcoolismo apesar de não ter cura, tem o tratamento, que é não beber. E dependendo do seu grau, você só consegue isso com ajuda. Comigo, felizmente, ainda estou conseguindo me manter sóbrio com ajuda de terapia.

Te pergunto: ser livre é beber, sem controle do corpo, da existência, fazendo mal para si, para outros?

Se ser livre é isso, eu prefiro a prisão que é o oposto.

Te convido a refletir sobre sua situação com a droga, ela é mesmo necessária para a sua vida?

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