#0017 O valor da trilha está na sua chegada ou na trilha em si?

O valor da trilha está na sua chegada ou na trilha em si?

Eu já defendi que nós devemos valorizar a jornada e não o resultado. Mas será que isso é de fato possível? Vamos analisar com calma.

Volto a trilha; utilizarei como exemplo a trilha da Pedra da Gávea que foi a trilha mais difícil que já fiz e a mais linda que já vi. Esta trilha é peculiar por ter uma paisagem deslumbrante no final. Você fica em uma das maiores pedras a beira mar do mundo. São 842 metros de altura, então imagina a visão do Rio de Janeiro, é algo único e indescritível, é daqueles “algo” que as palavras não conseguem captar e fazer você entender o que é de fato aquela trilha.

Mas só é possível chegar aquela contemplação se fizermos toda a trilha. Então, nesta medida o fim justifica o meio.

Nem sempre as trilhas terminam com uma contemplação, muitas vezes, e talvez na maioria das vezes a trilha é a trilha, sem nenhuma vista, uma cachoeira ou qualquer coisa que justifique você fazer aquela trilha, a não ser a própria trilha. E este é o segundo caso, que digo que talvez não seja possível você fazer algo sem esperar o resultado, mesmo que você se concentre apenas na trilha: a trilha em si é o resultado, logo a trilha = resultado = meio. Então é um fim que justifica um meio.

Isso é um paradoxo, pois o fim é sempre uma justificativa para o meio, mesmo quando o fim é o próprio meio. Leia de novo. Viajei?

Você já deve ter ouvido falar, ou deveria, em produtividade positiva, que é a ideia de que você não deveria descansar para produzir mais. Nem ler para produzir mais. Nem tentar aprender novas coisas para produzir. Não fazer nada com a destinação de produzir mais. Concentrar-se em fazer algo para fazer algo. Dessa maneira, descanso, leitura, atividade física, seriam um fim nelas mesmas.

Essa é uma ideia de que o meio deve ser a justificativa. Você não deveria fazer algo presente pensando em algo futuro, faz sentido certo?

Deixa eu te desiludir. Suponhamos que você e eu consigamos essa motivação tão nobre de não ter nada de extraordinário para cumprirmos coisas ordinárias da vida. Ainda assim, quando cumprirmos a motivação, teremos o mesmo resultado. Pois como expliquei, o meio se torna o fim, e inevitavelmente você estará utilizando um fim para justificar o meio.

O descanso será descansado. O livro será lido. O conhecimento será igual. Por mais que pareça nobre ler por ler. Caminhar por caminhar. De alguma forma tudo é movido para o resultado, nem que o resultado seja simplesmente cumprir aquela determinada ação.

E não há nenhum problema de existir mais de uma motivação, como descansar para trabalhar melhor, ou ir a academia para manter um corpo saudável, por exemplo. Talvez haja problema quando você deixar de ver sentido nos eventos ordinários da vida.

E é uma linha muito tênue entre você ver sentido nas coisas ordinárias da vida, e pegar emprestado o sentido que outros veem em coisas ordinárias da vida. São coisas bem diferentes, mas a linha que as separa é tênue.

Se a escolha é sua, tudo bem, mas se você terceiriza seus sonhos para expectativas externas sobre o que é você é um problema.

Mas será que de fato conseguimos escolher alguma coisa? Isso é papo para outro texto.

De toda a forma, seja qual for o que você escolher: você tem toda a razão sobre sua vida.

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