Você conseguiu entender a oração do título mesmo com as letras estando embaralhadas. Quando lemos, trabalhamos a totalidade de nossos neurônios, por isso esse fenômeno acontece.
É como se usássemos a potência máxima da nossa máquina, que é o nosso cérebro. Essa máquina, quanto mais utilizada, mais potente, mais criativa, mais eficaz, mais eficiente fica.
O neurocientista Stanislas Dehaene, em sua obra “Os neurônios da leitura”, faz um importante estudo sobre o funcionamento do nosso cérebro durante a leitura. Como já conversamos em outros textos, a escrita é uma tecnologia relativamente nova.
Segundo Stanislas, existem os neurônios, ou regiões neurais, elas se especializam em determinadas funções, como foi o caso da leitura. O processo de leitura se inicia em nossa retina; nossos olhos captam a luz e transmitem as informações para uma área central, que é uma espécie de ‘recepção’.
Esses neurônios responsáveis pela triagem sabem que se trata da leitura, então enviam as informações para os ‘especialistas’. A região ‘especialista’ na leitura é uma região responsável por identificar os objetos, ou seja, nosso cérebro aprendeu a adaptar a identificação de objetivos sensíveis em letras.
Depois que a informação é decodificada, ainda não existem conclusões exatamente desse processo, mas a teoria mais aceita é a da leitura em paralelo. E o que é isso? Bem, nós identificamos a leitura em pares silábicos, isso explica o fato de você ter conseguido ler o título.
Depois que a região cortical faz essa tradução, o cérebro precisa descobrir o significado. É interessante que existem duas maneiras que ocorrem essa definição de significado, e elas acontecem de maneira complementar.
A primeira é uma velha conhecida sua: formação de imagens acústicas das palavras; quando aprendemos a ler, aprendemos de maneira silábica, vamos lendo sílaba por sílaba e depois vamos transformando isso em significado, é o grafema, que se transforma em fonema — fonema é a unidade básica de som que forma as palavras. Logo, formamos as imagens acústicas das palavras.
A segunda maneira é conhecida como a via mental de leitura, a palavra é compreendida como um todo, não escutamos o som. Infelizmente essa maneira demora os mesmos nanosegundos da primeira forma de leitura. Isso implica que é impossível existir leitura dinâmica, visto que a limitação física que temos é a velocidade que nossos olhos percorrem a página e não a velocidade que decodificamos a informação em sentido.
Após isso, o cérebro consegue saber que aqueles traços parecidos formam uma palavra. Mas uma palavra por uma palavra não traz nenhum significado, por exemplo: admoesta, alcunha, curra, dândi, jaez, petiz, vaneta, etc. Você sabe que isso são palavras, mas se você for um ser humano normal, não saberá o significado delas. Então a palavra precisa de um significado de fato.
E tudo isso que expliquei para você até agora as Inteligências Artificiais fazem também. Se do outro lado você não soubesse que o chat-GPT fosse uma inteligência artificial, certamente você acreditaria que ele era um humano, eu pelo menos acreditaria facilmente.
A diferença da forma como nós lemos para como a máquina lê, é que ela vai descobrir o significado daquela palavra por meio de cálculos pesados de matrizes e determinantes, chegando a um texto que parece de um ser humano.
Enquanto nós humanos vamos pensar em nossas experiências, na nossa memória e trazer o significado das palavras.
Não devemos deixar de ler, é uma maneira de exercitar o nosso cérebro e produzir massa cinzenta. Sabe quando você vai para a academia? Você treina seus músculos e começa a ver resultados? Com o cérebro é igual. E a leitura é como se fosse a academia do cérebro.
Se você leu até aqui, mereço que você deixe um comentário.

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