Durante muito tempo da minha vida me questionei como eu, um aspirante a romancista, poderia divulgar o meu trabalho?
E a resposta era a mais óbvia possível: escrever crônicas.
Se você está comigo a mais tempo, espero que tenha notado que minhas narrativas na verdade são crônicas.
Claro que não tenho tanta experiência como Clarice Lispector, por exemplo, que escreve uma crônica de um jeito que parece ser de uma alienígena de outro mundo.
E eu concorro com ela. Se você está me lendo neste momento, você a deixou de ler. Eu sei, não é justo. Não concorro apenas com a atenção do nosso tempo, mas de todos os escritores que vieram antes de mim. Por isso que cada geração de escritor tenta inovar e fazer diferente dos anteriores.
Raramente se eu escrevesse apenas um realismo cru, eu seria tão bom quanto o Machado de Assis. Ou se eu escrevesse algo filosófico, não chegaria nem perto da Clarice, mas como estou escrevendo para redes sociais superficiais, vazias, que te deixam insatisfeito com sua vida, eu tenho chance, pois trago uma palavra de esperança.
E uma crônica é isso; é falar de tudo. E também falar da crônica para quando não se tem ideia. Eu falo de temas do cotidiano, mas sempre acabo falando dela, não tem como, ela tem modificado a nossa forma de viver, essa tal dessa IA. E que bom que ela existe. Imagina se eu trato apenas dos temas de Clarice e do Machado, que chance eu teria em ser lido?
E a inteligência artificial não é um hype, na verdade ela é mais velha que sua avó. Mas isso é papo para outro texto.
De toda a forma, caso ela tenha vindo para um bem comum ou para um apocalipse total em que vai retirar o emprego de todo mundo, ela veio para ficar.
É, um futuro distópico que você vai pegar pensando: para quê que vou aprender uma nova habilidade se a IA sabe já isso, e muito melhor que eu?
E sim você está certo. Precisamos lidar com o fato de que algumas habilidades serão dominadas por robôs em um nível que jamais iremos alcançar. Mas se é assim, por que continuar?
Talvez meu texto não seja tão bom quanto o de Clarice, do Machado, e agora também do chat-GPT. O chat-GPT tem referências de todos os melhores escritores, a nata da nata. E eu, mesmo que pudesse ter uma vida dedicada à escrita, ainda assim, eu não conseguiria ler todos os inputs que ele recebeu no treinamento, é algo humanamente impossível.
Então porque continuar se você está destinado a não ser o melhor? Porque o externo nunca esteve e nunca estará ao nosso alcance. É sabido que nós só deveríamos nos comparar com nós mesmos. Muito me interessa saber que meu texto de hoje é melhor que meu texto de um ano atrás.
Escrever é algo que gosto, que faz sentido e me permite me conhecer melhor. Entender as nuances de minha alma. E redescobrir o que fui, como eu pensava, e como me sentia.
Porque nós humanos, ao contrário das máquinas, nós morreremos. Nós somos vivos e toda vida tem um fim. Nós podemos nos iludir acreditando que a morte não chegará às nossas vidas. Mas morreremos. E isso nos obriga a sair de nossa zona de conforto em direção ao prolongamento de nossas existências. Por isso, vivemos em sociedade e aceitamos as implicações disso.
A máquina não pode morrer. Então todo o discurso e tudo o que a máquina faz é esvaziado de significado. Nós precisamos fazer o que gostamos, mesmo que isso não tenha sentido, mas significado.
Muitos especialistas em IA afirmam que as LLM chegaram ou estão muito próximas ao seu limite. Segundo eles, não há mais dados orgânicos para treinarem os modelos, como se já estivéssemos chegando ao topo da linguagem.
Já um outro grupo, nos fazem uma nova relevação, dizem que é o fim dos tempos. Em breve veremos a Inteligência Artificial Geral (aquela que aparece no Exterminador do Futuro, lembra a Skynet?) e então tudo que seja trabalho humano e robótico, será feito por máquinas.
Em qualquer um dos cenários precisaremos lidar com a máquina sendo melhor que a gente e isso já acontece hoje, nenhum ser humano consegue vencer um algoritmo de xadrez. Mas ainda assim, há campeonatos de xadrez de seres humanos para seres humanos.
Se as máquinas poderem fazer tudo, nós poderemos nos dedicar a um problema que nenhuma máquina pode resolver: qual o sentido do sofrimento humano?
Essa é uma pergunta que todos os seres humanos precisam responder em suas existências, e a ausência de resposta também é uma resposta. Mas no cenário em que as máquinas não podem fazer tudo. Aqui sim é distópico. Será que haverá espaço para seres humanos como eu e você? Se você for genial, este texto não é para você. Mas se você for normal, como eu, o que restará para nós?
Eu não tenho respostas. Mas sei que o que restar precisará de escrita. Uma LLM funciona como em uma conversa. Não, não estou falando de engenharia de prompt, este é só um termo inteligente dos marketeiros para te vender produtos que você não precisa. Eu falo de usar sua experiência única para conduzir a LLM ao novo.
Só você viveu a sua vida. Eu sei que essa é uma fala clichê, mas o clichê só é clichê porque é verdade também. Com sua experiência única, você pode obter respostas também únicas.
Então eu escrevo crônicas para me lembrar de como eu sou, de como eu fui, de como eu serei. Para te lembrar que há esperança, que somente você poderá construir os significados para sua própria vida. E para te ajudar a criar uma relação melhor com a máquina e outros seres humanos.

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