#0030 Será que uma vida vale mais que uma outra vida?

Nós costumamos pensar que se uma pessoa é careta, tem uma vidinha de merda, é CLT, como dizem os novos gurus do empreendedorismo e da riqueza, que ela é infeliz.

Olhamos para uma mulher que tem uma vida dedicada a uma religião, cuidando da casa e dos filhos e pensamos: nossa que pobre mulher, ela é tão infeliz.

Admiramos os grandes empreendedores que se tornaram ricos, fizeram algo diferente, tem uma vida cheia de glórias que desejamos internamente aquela realização.

Mas olhar isso é olhar para a superfície. Ninguém é 100% feliz ou 100% triste. Nós temos variações de emoções e se não estamos vivendo um quadro depressivo, costumamos sorrir e ter momentos de alegrias, mesmo que tais momentos sejam breves.

Essa é uma vida normal, uma vida normal. E uma vida de pessoas que não conseguem nem mesmo ter a escolha para dizer que vivem uma vida normal? Pensamos naquelas pessoas que estão em situação de rua, ou em situação de vício, ou em sofrimento. Para fins deste texto, não me interessa a razão que levou ao quadro.

Nem tão pouco se existe solução. Me interessa pensar, será que uma vida assim é menos valiosa que uma vida dita normal?

Será que alguém que está tão imerso num vício que perde o prazer em olhar para o céu e ver a beleza da vida, será que este alguém é menos valioso que alguém normal?
Será que o normal seria a pessoa que não consegue ver a beleza e os doentes aqueles que veem a beleza e dizem que tem uma vida normal?

Do ponto de vista da humanidade, que só quer sobreviver e não se interessa pela vida individual de seus membros. Não faz diferença todas essas existências, desde que ambas consigam passar os seus genes e procriar a existência da espécie.

Se alguém teve uma vida plena e perfeita do ponto de vista romântico do qual criamos esses conceitos, e alguém que viveu em sua miséria humana e não conseguiu realizar nada, esses dois seres são iguais.

Se é assim, qual o sentido então de viver uma vida feliz? Não foi este o questionamento que todas as religiões tentaram responder? Mas talvez a resposta esteja embutida dentro da própria pergunta.

É sempre importante lembrarmos que podemos estar a algumas horas da miséria. Do nada, pode existir uma guerra. Do nada, um terremoto. Do nada uma pandemia. Do nada podemos deixar de viver.

E nisso vale a pena lembrar que não existe vida no futuro, a vida está aqui, dentro das palavras e dentro do momento que escrevo esse texto.

Então, eu preciso dizer que precisamos continuar a viver, deixarmos o nosso legado, não o legado egoísta de nossa humanidade. Não como o Brás Cubas que queria deixar o emplasto para ser lembrado por nada. Legado não é isso. Legado é o amor que imprimimos dentro do DNA das pessoas que amamos.

Faz sentido para você?

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *