Eu demorei tempo demais para entender isso, esperei o tempo perfeito, acreditando sempre faltar algo: faltava repertório para os clássicos, vivência, técnicas de escritas, uma lista infinita de itens.
Todo mundo tem um pouco disso, até apelidaram de síndrome do impostor. Eu sei disso. Mas o que estava me faltando não era técnica, era coragem.
Escrever é expor o máximo que nossa alma fragmentada pode mostrar. Como toda a arte é como se ela conseguisse captar a nossa essência infinita e colocasse a disposição de outros seres humanos para conhecer esta nossa essência.
E esse processo é doloroso. Nem sempre, ou melhor, quase nunca o nosso infinito é compatível com outros infinitos. E talvez por isso, procurei atrás de técnicas e conhecimentos, um refúgio para não encarar isso.
Talvez eu não seja um gênio. Talvez a minha escrita não vai impactar milhões de pessoas. Talvez a máquina consiga escrever e se expressar melhor que eu.
Mas eu amo escrever. E esse processo é um processo que fortalece o meu ser, então, eu finalmente entendi que para escrever era preciso escrever.
Calma, deixa eu usar uma metáfora para ilustrar melhor. Existe uma trilha, uma das mais difíceis do Brasil, localizada na Pedra da Gávea, ela é muito difícil mesmo, nós vamos escalando, superando os desafios, até chegar ao topo e ganhar umas das melhores recompensas do mundo, uma visão privilegiada do Rio, algo muito lindo.
Mas a maioria das trilhas não são assim. No final, não existe aquela visão maravilhosa, e em quase todas as vezes, precisamos voltar pelo mesmo caminho. A beleza real da trilha é a própria trilha. O que me resta de lembrança da Pedra da Gávea não é a visão maravilhosa, mas a superação de continuar subindo mesmo quando eu e minha esposa queríamos desistir e voltar.
E a escrita é assim, ela não pede a glória do final. Não estou dizendo que não desejo também ser reconhecido pelo que escrevo, mas estou dizendo que isso não é meu objetivo final. A escrita não é meio, ela é o meu próprio fim.
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